Discriminação de gênero sob as lentes do constitucionalismo transformador feminista e dos litígios estruturais no Supremo Tribunal Federal

Autores

  • Eliziane Fardin de Vargas Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC https://orcid.org/0000-0002-3192-659X
  • Mônia Clarissa Hennig Leal Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC

Palavras-chave:

discriminação estrutural e interseccional, gênero, litígios estruturais, Supremo Tribunal Federal (STF), constitucionalismo transformador feminista

Resumo

o estudo pretende demonstrar como a propositura de litígios estruturais junto ao Supremo Tribunal Federal pode desempenhar um papel importante no processo de rompimento dos ciclos que perpetuam a discriminação estrutural e interseccional de gênero no Brasil, especialmente quando, provocado à decidir, o mais alto tribunal brasileiro incorpora nesse tipo de casos, em cumprimento ao seu mandato constitucional de proteção aos direitos de igualdade e não discriminação de grupos vulneráveis, a perspectiva de gênero, inerente ao movimento do constitucionalismo transformador feminista. Utiliza-se do método de abordagem dedutivo e do método de procedimento analítico, tendo como objetivos específicos, primeiro, compreender a discriminação estrutural e interseccional de gênero e as contribuições oferecidas pelo constitucionalismo transformador feminista para a superação do problema. Em seguida, evoluir para a análise de como os litígios estruturais, conjuntamente com uma atuação jurisdicional pautada nas ideias do constitucionalismo transformador feminista, podem contribuir ao complexo processo de rompimento de padrões discriminatórios estruturais e interseccionais de gênero. Conclui-se que, para que as mudanças estruturais ocorram, não basta a articulação dos atores sociais reivindicando através dos litígios de viés estrutural: é imprescindível que a jurisdição constitucional esteja, ao mesmo passo, compromissada e aberta para receber tais demandas e, pautando sua atuação nas ideias de um constitucionalismo transformador feminista, promova as alterações necessárias para erradicar a discriminação de gênero.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Eliziane Fardin de Vargas, Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC

    Doutoranda no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direitos Sociais e Políticas Públicas da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC, com bolsa PROSUC/CAPES modalidade I e bolsa CAPES no Processo nº 88881.933606/2024-01, Edital PDSE nº 30/2023, vinculada à Faculdad de Derecho da Universidad de Buenos Aires (Argentina). Mestre (2022) e graduada (2020) em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC, com bolsa PROSUC/CAPES modalidade II e bolsa PROUNI, respectivamente. Integrante do grupo de pesquisa "Jurisdição Constitucional aberta" (UNISC), vinculados ao CNPq. Lattes: http://lattes.cnpq.br/7125626353321424. Orcid: http://orcid.org/0000-0002-3192-659X. E-mail: <elizianefardin@hotmail.com/elizianefvargas@mx2.unisc.br>.

Referências

ALMEIDA, J. T.; MACHADO, R. C. R. “Gênero, raça e participação política da mulher negra: da visibilização à inclusão”. Revista Direito Público, v. 18, n. 98, p. 397-421, 2021.

AKOTIRENE, C. Interseccionalidade, São Paulo, Polén, 2019.

BARBOZA, E. M. Q.; DEMETRIO, A. “Quando o gênero bate à porta do STF: a busca por um constitucionalismo feminista”. Revista Direito GV, v. 15, n. 3, p. 01-34, 2019.

BARTOLOMEU, P. C.; ROMFELD, V. S. “Constitucionalismo Feminista: a busca por um Estado comprometido com a igualdade de gênero”. Revista Brasileira de Pesquisa Jurídica, v. 2, n. 3, p. 133-158, 2021.

BONATTO, M.; FACHIN, M. G.; BARBOZA, E. M. Q. “Constitucionalismo feminista: para ler e interpretar o Direito (Constitucional) com as lentes de gênero”. Revista CNJ, p. 213-224. 2022.

BROOCKE, B. M. S. von der. “Litígios estruturais e constitucionalismo transformador: perspectiva e desafios para uma gestão processual dialógica no Supremo Tribunal Federal”. En: OLSEN, A. C. L.; FACHIN, M. G.; CAMPOS, P. P. Diálogos Constitucionais Transformadores, Rio de Janeiro, Lumen Juris, p. 137-160, 2022.

CARDOSO, E. L. C. Litígio estratégico e sistema interamericano de direitos humanos, Belo Horizonte, Fórum, 2012.

CASONI, L. F. PERUZZO, P. P. “Contribuições da Corte Interamericana de Direitos Humanos sobre violência contra a mulher: uma análise jurisprudencial”. Revista Direito Público, v. 18, n. 98, p. 97-125, 2021.

CLÉRICO, L.; RONCONI, L.; ALDAO, M. “Hacia la reconstrucción de las tendencias jurisprudenciales en América Latina y el Caribe en materia de igualdad: sobre la no-discriminación, la no-dominación y la redistribución y el reconocimiento”. Revista Direito GV, v. 9, n. 1, p. 115–170, 2013.

CRENSHAW, Kimberle. “Documento para o Encontro de Especialistas em Aspectos da Discriminação Racial Relativos ao Gênero”. Estudos Feministas, v. 1, p. 177-188, 2002.

COLLINS, P. H.; BILGE, S. Interseccionalidade, São Paulo, Boitempo, 2020.

CONECTAS. Ofensivas antigênero no Brasil: políticas de estado, legislação, mobilização social, 2023.

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Protocolo para julgamento com perspectiva de gênero, Brasília, Conselho Nacional de Justiça – CNJ; Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados — Enfam, 2021.

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Pacto Nacional do Judiciário pelos Direitos Humanos, 2022.

CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Bedoya Lima y otra vs. Colombia: sentença de 26 de agosto de 2021 (Mérito, Reparações e Custas). San Jose da Costa Rica, 2021. Disponível em: <https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_431_esp.pdf>. Acesso em: 28 fev. 2023.

CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Digna Ochoa y Familiares vs. México: Sentença de 25 de novembro de 2021 (Exceções Preliminares, Mérito, Reparações e Custas). San Jose da Costa Rica, 2021. Disponível em: <https://corteidh.scjn.gob.mx/buscador/doc?doc=casos_sentencias/seriec_447_esp.pdf#CADIME_S1_PARR98>. Acesso em: 28 fev. 2023.

CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Guzmán Albarracín y otras vs. Ecuador: sentença de 24 de junho de 2020 (Mérito, Reparações e Custas). San Jose da Costa Rica, 2020. Disponível em: <https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_405_esp.pdf>. Acesso em: 28 fev. 2023.

CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Vicky Hernández y otras vs. Honduras: sentença de 26 de março de 2021 (Mérito, Reparações e Custas). San Jose da Costa Rica, 2021. Disponível em: <https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_422_esp.pdf>. Acesso em: 28 fev. 2023.

CORTE INTERAMERICANA DE DIRETOS HUMANOS. Caso empregados da fábrica de fogos de Santo Antônio de Jesus e seus familiares vs. Brasil: Sentença de 15 de julho de 2020 (Exceções Preliminares, Mérito, Reparações e Custas). San Jose da Costa Rica, 2020. Disponível em:https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_407_por.pd. Acesso em: 28 fev. 2023.

ELY, J. H. Democracia e desconfiança: uma teoria do controle judicial de constitucionalidade, São Paulo, Editora WMF Martins Fontes, 2010.

FACHIN, M. G.; OLSEN, A. C. L. “Perspectiva de gênero na Corte Interamericana de Direitos Humanos”. Revista CNJ, Brasília, v. 6, p. 95-108, 2022.

FISS, O. Um novo processo civil: estudos norte-americanos sobre jurisdição, constituição e sociedade. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2004.

FRASER, N.; HONNETH, A. Redistribución o reconocimiento Un debate político-filosófico. Madrid, Ediciones Morata, S.L., 2006.

GOMES, C. M. “Gênero como categoria de análise decolonial”. Civitas, v. 18, n. 1, jan. -abr. 2018. p. 65-82.

GOMES, J. C. A.; FABRIS, L. “Paradoxos do Direito à Igualdade: Discriminação, Diferença e Identidade sob uma Perspectiva Crítica”. Revista Direito Público, v. 18, n. 97, Brasília 2021.

HARRIS, A. P. “Raça e essencialismo na Teoria Feminista do Direito. Tradução de Camilla de Magalhães Gomes e Ísis Aparecida Conceição”. Revista Brasileira de Políticas Públicas, v. 10, n. 2, 2020, p. 38-65, 2020.

HOGEMANN, E. R.; BOLDT, M. “A perspectiva da interseccionalidade na análise de casos de gênero no Sistema Interamericano de Direitos Humanos”. Revista Direitos e Garantias Fundamentais, v. 22, n. 3, p. 13-48, 2021.

IRIARTE RRIVAS, C. P. “La discriminación estructural de género y su recepción sistémica en el sistema de derechos humanos. Anuario de Derechos Humanos, n. 14, p. 55-76, 2018.

KÖLLING, G. J.; SILVA, C. A. F.; ANDRADE, G. S. “Desigualdade estrutural e divisão sexual do trabalho: período transpandêmico e o incremento da insegurança alimentar”. Revista Direito Público, v. 19, n. 104, p. 260-287, 2023.

LEAL, M. C. H.; LIMA, S. S. A atuação da Corte Interamericana de Direitos Humanos na proteção dos grupos em situação de vulnerabilidade: discriminação estrutural e sentenças estruturantes. São Paulo, Tirant Lo Blanch, 2021.

LIMA, J.; BUENO, M. P.; STAMILE, N. “Supremas Ministras: a inclusão de mulheres na composição do STF à luz da legitimidade das Cortes Constitucionais”. Revista Direito Público, v. 18, n. 98, p. 225-263, 2021.

MANEIRO, R. M. J.; PULCINELLI, E. “Litígio estratégico, vinculação de precedentes e abertura ao diálogo constitucional na construção do provimento jurisdicional”. Revista de Investigações Constitucionais, v. 4, n. 2, p. 193-219, 2017.

OLSEN, A. C. L.; KOZICKI, K. “O constitucionalismo transformador como instrumento de enfrentamento do racismo estrutural: o papel do STF”. Suprema: revista de estudos constitucionais, v. 1, n. 1, p. 82-118, 2021.

PEREIRA, N. M. F. de S. “O constitucionalismo feminista e a constituinte chilena: quando a prática não acompanha o discurso”. En: SILVA, B. M. G.; CAVALCANTE, M. L. L. L. Reflexos: as mulheres e suas imagens no sistema de justiça. 1. ed. Associação Nacional dos Procuradores da República, p. 53-80, 2023.

PUGA, M. G. “Litigio estructural”. 2013. 328 p. Tese (Doutorado em Direito) - Faculdad de Derecho de la Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires, 2013.

RIOS, R. R.; SILVA, R. “Discriminação múltipla e discriminação interseccional: aportes do feminismo negro e do direito da antidiscriminação”. Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília, n. 16, p. 11-37, 2015.

ROA ROA, J. E. “La ciudadanía dentro de la sala de máquinas del constitucionalismo transformador latinoamericano”. Revista Derecho del Estado, n. 49, p. 35-58, 2021.

RONCONI, L. “Igualdad y derechos sociales: su efectivización através del litigio. Una primera aproximación”. Revista Jurídica de la Universidad de Palermo, v. 14, n. 2, p. 153-176, 2015.

SAGÜES, María Sofía. Discriminación estructural, inclusión y litígios estratégicos. In: FERRER MAC-GREGOR, Eduardo; MORALES ANTONIAZZI, Mariela; FLORES PANTOJA, Rogelio (Coord.). Inclusión, Ius Commune y justiciabilidad de los DESCA en la jurisprudencia interamericana. El caso Lagos del Campo y los nuevos desafíos. Colección Constitución y Derechos, México, Instituto de Estudios Constitucionales del Estado de Querétero, p. 129-178, 2018.

VARGAS, E. F. de; LEAL, M. C. H. “O Direito à igualdade e não-discriminação das mulheres na política: a decisão da ADI 5617/DF e a doutrina das categorias suspeitas”. Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, v. 22, n. 2, p. 85-114, 2022.

VARGAS, E. F.; SILVA, F. F. C. “A intersecção de vulnerabilidades no caso ‘empregados da fábrica de fogos de Santo Antônio de Jesus e seus familiares vs. Brasil’: uma análise das medidas implementadas pela Corte Interamericana de Direitos Humanos ao caso”. NOGUEIRA, H.; ALVITES, E., SCHIER, P.; SARLET, I. W. (Orgs). Anais da VIII Jornada da Rede Interamericana de Direitos Fundamentais e Democracia (2021). Volume I, Porto Alegre, Editora Fundação Fênix, p. 129-146, 2021.

VITORELLI, E. “Levando os conceitos a sério: processo estrutural, processo coletivo, processo estratégico e suas diferenças”. Revista de Processo, v. 284, p. 333-369, 2018.

Downloads

Publicado

2024-12-19

Como Citar

“Discriminação de gênero sob as lentes do constitucionalismo transformador feminista e dos litígios estruturais no Supremo Tribunal Federal” (2024) Cadernos de Dereito Actual, (26), p. 152–171. Disponível em: http://www.cadernosdedereitoactual.es/index.php/cadernos/article/view/1248 (Acessado: 28 outubro 2025).